Por Dom Orani João Tempesta, O. Cist.
Nos últimos anos temos visto na Igreja o incremento do ministério do Diácono Permanente. Não resta dúvida de que os padres conciliares foram inspirados para esta restauração. A retomada desse ministério, como uma vocação própria, é uma grande riqueza para nós.
Tive a oportunidade de poder vivenciar várias experiências ligadas ao diaconato permanente, seja em minha paróquia, seja iniciando a escola diaconal em minha primeira diocese ou então continuando uma caminhada das mais antigas do Brasil, na arquidiocese anterior a que servi. Percebi a importância e o valor do diaconato permanente, tanto no campo social como na presença evangelizadora da Igreja nos diversos âmbitos e também nas comunidades. Posso testemunhar por minhas experiências a riqueza da vida, da missão e trabalho diaconal o bem que se faz à Igreja.
Nem sempre as pessoas compreendem como esse passo que o Concílio Vaticano II nos deu foi profético. Muitos selecionam do Concílio apenas aquilo que querem e não acolhem esse grande dom que nos foi dado. Muitas comunidades no Brasil e no exterior já deram grandes passos nessa direção, enriquecendo a Igreja local com os diversos carismas e dons.
Se nos atualizamos com alguns números do Anuário Pontifício, ficamos impressionados com a vida diaconal em algumas dioceses nos Estados Unidos: Nova York conta com 377 diáconos, Los Angeles possui 261, e Boston com 257. Os pastores dessas megalópoles, com todos os seus desafios pastorais e sociais tão grandiosos quanto os nossos, souberam acolher a proposta conciliar e deram passos que hoje marcam o trabalho dessas Igrejas.
O importante é que “é preciso superar uma inércia ministerial das Igrejas, acostumadas a ver só um tipo de ministério ordenado na comunidade” (doc. 57 - pg. 22 – Estudos da CNBB - 1988). A ação do Espírito Santo se adiantou às nossas necessidades e missão.
Aqui na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro começou uma das primeiras iniciativas para a ordenação de diáconos permanentes ainda com o meu predecessor, Cardeal Dom Eugênio, sendo ele também um dos pioneiros na defesa desse ministério. Tive a graça de suceder em Belém e aqui no Rio de Janeiro a Arcebispos pioneiros que trilharam esse caminho, e foram fieis ao Concílio, com a organização desse ministério hierárquico. Acredito que seria muito importante uma história dessa vocação, seus inícios, passos e com mais dados e fatos em nossa Igreja do Rio de Janeiro.
A nossa Arquidiocese criou a sua Escola Diaconal, onde os candidatos passam quase 5 anos de intensa formação doutrinal, pastoral e sacramental, de acordo com as horas-aula que são exigidas segundo os documentos que organizam a formação diaconal.
Com toda esta história e com o trabalho sendo bem desenvolvido, peço a Deus que nos envie muitas vocações para que possamos incrementar ainda mais, com o diaconato permanente, a nossa missão evangelizadora e catequética nesta grande cidade. Tive a alegria de ordenar, no dia 28 de novembro passado, o mais novo grupo de diáconos permanentes, que vem somar forças com aqueles que já caminham e servem a esta Igreja com generosidade e alegria. Agora necessitamos de olhar adiante e para o futuro.
Confio principalmente aos párocos o discernimento vocacional para que, consultadas as comunidades e os conselhos paroquiais, indiquem candidatos para serem encaminhados nessa direção. Em uma cidade como a nossa não podemos nos acomodar e sim nos colocar à escuta do Senhor para que saibamos acolher os trabalhadores que Ele envia para a messe. Os párocos devem perceber em suas comunidades aqueles homens capazes de assumir essa caminhada vocacional, e também estar abertos para as vocações que lhe chegam espontaneamente ou indicadas por pessoas conhecidas que querem o bem da Igreja.
A própria comunidade paroquial é fonte de vocações desses homens que estão dispostos a uma doação mais radical e profunda pela causa do Evangelho. É um belo testemunho que temos ao nosso redor com tantas pessoas de diversas situações culturais e sociais se colocarem a serviço do povo de Deus com generosidade e alegria, autorizados pelas esposas e com a alegria dos filhos.
Somos chamados a dar testemunho e nos empenharmos numa lógica de comunhão ministerial, onde percebamos que a vida ministerial deve estar completa para que possa transparecer todo o múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, cabeça e fundamento de toda a vida vocacional na Igreja.
E que possamos, assim, perceber toda a riqueza de vocações e de serviços que existem no corpo da Igreja, onde todos estão a serviço de um único Senhor e de um único Evangelho. Todos, sendo diferentes na sua caminhada vocacional, e sendo diferentes no modo de vida na qual assumem os seus propósitos de bem servir à Igreja de Cristo, devem ter o firme propósito de completar em si mesmos o único ministério do Cristo, e do qual emanam todas as vocações.
Quero pedir, portanto, a todos os sacerdotes, e em especial aos párocos de nossa Arquidiocese, que, em comunhão com as diretrizes desta nossa Igreja particular do Rio de Janeiro, possam se empenhar para o frutuoso incremento das vocações diaconais. Quero reafirmar que estarei sempre empenhado, seguindo a linha de ação pastoral de meus predecessores, no desenvolvimento da vida diaconal em nossa Arquidiocese, com tanto vigor quanto tenho pelas vocações sacerdotais e religiosas.
Recordo que a seleção prévia dos candidatos nas paróquias já é um chamado, e se reveste de grande importância. A formação e o discernimento aperfeiçoarão esse chamado.
O caminho institucional é o que atualmente está em vigor: os nomes dos possíveis candidatos são enviados à Comissão Arquidiocesana dos Diáconos Permanentes (Cadiperj), e, uma vez aceitos, poderão ingressar no período do propedêutico, com duração de um ano, e ao seu término poderão ser inscritos na Escola Diaconal Santo Efrém.
Peço ao Senhor da Messe que nos envie boas e santas vocações diaconais para a nossa Igreja de São Sebastião do Rio de Janeiro. O cânon 385 nos recorda que: “O Bispo diocesano incentive ao máximo as vocações para os diversos ministérios”.
Assim respondo com alegria ao pedido que a Mãe Igreja me pede: promover as vocações em todos os seus ministérios, e, agora, aqui, especialmente, o ministério diaconal.
Site CNBB, em 22 Fev 10.