terça-feira, 10 de agosto de 2010

DIÁCONOS SERVIDORES!

Por Dom Orani João Tempesta

No dia 10 de agosto celebramos a festa de São Lourenço, diácono e mártir e patrono dos diáconos. Viveu na época do Papa Sisto II, quando procurou servir os pobres com bens da comunidade de fé.

Sobre ele recordamos as palavras do Santo Padre, em sua homilia na Basílica que leva o nome do mártir, em Roma, em 30 de novembro de 2008: “sua vida foi dedicada aos pobres, e deu generoso serviço à Igreja de Roma, especialmente no cuidado dos pobres e da caridade!”

De São Lourenço recordamos o seu testemunho diante da pressão do imperador que queria para si os imaginados bens da Igreja: “a riqueza da Igreja são os pobres.”

Percorrendo o mês de agosto, mês das vocações, deparamo-nos com a Vocação Diaconal. Celebramos o Dia dos Padres no dia quatro de agosto, e o Dia dos Pais no segundo domingo do mês, quando começa a semana nacional da família. O diácono é uma vocação ministerial para o serviço.

Existem muitas razões de ordem pastoral para a implantação do diaconato permanente onde ainda não o foi. Poderíamos enumerar algumas: ampliação dos serviços da caridade e da liturgia junto ao povo fiel, principalmente nos grandes centros urbanos, tão carentes deste atendimento por parte da Igreja; a presença sacramental e ministerial da Igreja em muitas ambientes da vida secular onde ela não consegue chegar com facilidade. Afinal é um dos ministérios presentes na Igreja e que complementam a missão na diversidade de funções e necessidades.

Porém, gostaria de ressaltar o diácono como fonte do ministério do amor e da justiça. O diácono é ordenado para incorporar uma dimensão do ministério apostólico: o do serviço, como disse acima.

O próprio termo diaconia já por si expressa o ser diácono – o que serve, configurando-se ao Cristo Servo que “não veio para ser servido, mas para servir”. O diaconato expressa-se em três dimensões: o serviço da caridade, o serviço da liturgia e o serviço da Palavra de Deus.

E dentro da perspectiva do serviço, destaco o da caridade, o serviço junto aos pobres, à situação de pobreza. A Igreja espera dos diáconos uma resposta às necessidades dos menos favorecidos de nossa sociedade.

Recordo a carta da Congregação do Clero, assinada pelo Cardeal D. Claudio Hummes, emitida por ocasião do Ano Sacerdotal: “os diáconos são identificados, sobretudo, com a caridade. Os pobres são o seu ambiente cotidiano e o foco de sua atividade sem descanso. Não se compreenderia um Diácono que não se envolvesse na caridade e na solidariedade para com os pobres, que hoje de novo se multiplicam.”

O Diaconato é um ministério do limite, por causa da atenção e do cuidado com aqueles que estão na situação de miséria e de pobreza, os preferidos de Jesus, e que precisam de nossa atenção social e também espiritual.

O diácono é um sinal da caridade e do serviço, da Igreja que ama os pobres e vive para servir aos homens e as mulheres de boa vontade. O diácono é um servo que traça o caminho do amor e da afeição em relação ao dom maior da caridade.

Em seu empenho pela caridade, deve-se incluir a sua estreita colaboração ao bispo, que é o primeiro responsável pela caridade na Igreja local, e o diácono é chamado, pelo seu ministério, a ser um de seus mais próximos colaboradores nesta missão.

Em muitas dioceses, seja no Brasil ou no exterior, temos vários testemunhos de diáconos empenhados e que servem, principalmente, a mulheres vitimas de violência, a crianças maltratadas, doentes mentais, tóxico-dependentes, pessoas portadoras de HIV, sem teto, prisioneiros, refugiados, migrantes, populações de rua, desempregados e vítimas de discriminação racial ou étnica. Isso tudo, sem dúvida, é uma grande riqueza para a Igreja.

Outro tipo de pobreza para a qual o diácono é chamado a servir é a pobreza de ordem espiritual. É muito fácil encontrarmos pessoas que estão em extrema carência de atenção, que se encontram na solidão, na raiva, no ódio, na confusão espiritual, na depressão, e no sofrimento. Precisamos levar Jesus para essas pessoas, mantermo-nos junto delas, oferecendo o Seu amor.

Os diáconos podem muito se empenhar no ministério da escuta e do aconselhamento desses nossos irmãos. Sendo homens de fé, a serviço da Igreja, também estão inseridos no ambiente familiar, da cultura e do mundo do trabalho. Isso tudo lhes permite conhecimento de causa e, à luz do Evangelho, como servidor da Palavra, dar ânimo de vida e de esperança.

Neste dia dedicado aos Diáconos, peço por todos os nossos diáconos permanentes da Arquidiocese. Agradeço o serviço que prestam ao seu Bispo e ao Povo de Deus. O exemplo de perseverança e de fidelidade de seu patrono, São Lourenço, possa ser uma luz na caminhada ministerial dos Diáconos.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

LECTIO DIVINA (LEITURA ORANTE DA BÍBLIA)

Apresentamos um método para leitura orante da Bíblia (Lectio Divina), com o qual você poderá ler, meditar, rezar e contemplar o texto bíblico de modo que compreenda o que Deus disse para o povo na situação em que viviam e o que está querendo dizer para nós hoje.

1º. LECTIO (LEITURA): ler o texto várias vezes até criar uma maior familiaridade. Pronunciar bem as palavras. Entrar em contato com o texto utilizando-se de muita atenção, respeito, escuta... Sugerimos que essa leitura também seja criteriosa, evitando e até excluindo uma leitura fundamentalista. É preciso ver o texto dentro do seu contexto e origem.

A leitura responde a pergunta: O que diz o texto?

2º. MEDITATIO (MEDITAÇÃO): Esse passo é um convite para que atualizemos o texto e consigamos trazê-lo para dentro do horizonte da nossa vida e realidade. A meditação é um ótimo espaço para que se medite e reflita o que há de semelhante e diferente entre a situação do texto com o hoje. Depois, é importante resumir tudo o que foi ruminado numa frase. Essa frase o ajudará a recordar durante o dia o que foi meditado. É um prolongamento da meditação. Aos poucos vai havendo uma relação do que foi meditado com a vida de quem está meditando.

A meditação responde: O que diz o texto para mim, para nós?

3º. ORATIO (ORAÇÃO): Praticamente a oração está presente em todas as etapas. É importante que haja uma transparência no ato da oração e que o orante seja realista. Ele pode usar o momento tanto para louvor, ação de graças, súplica, pedido de perdão, rezar algum salmo, recitar preces já existentes. É importante que esse momento possa ajudá-lo na reflexão da frase escolhida.

A oração responde: O que o texto me faz dizer a Deus?

4º. CONTEMPLATIO/ACTIO (CONTEMPLAÇÃO/AÇÃO): depois de ler, meditar e orar o texto bíblico e sua realidade, chegou a hora de contemplar todo esse percorrido. "A contemplação nos ajuda a entender que Deus está presente na realidade". Pela contemplação é possível perceber a presença de Deus. E com isso somos convidados ao compromisso com a realidade.

E a contemplação/ação ajuda a responder: Estou pronto para nova missão?

Shalom!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Proteção à vida

Por Dom Dadeus Grings

Vivemos numa época em que os direitos humanos emergem e assumem hegemonia. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, pelas Nações Unidas, em 1948, é considerada uma das mais belas páginas escritas ao longo da história humana. Estabelece, no artigo 1, que “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. A ciência, porém, mostra que a vida humana de uma pessoa não se inicia com o nascimento, mas com a concepção. É neste momento que se inicia sua trajetória pessoal. Como consequência, surge a patética batalha em favor da vida desde seu início até seu fim natural, com o direito de garantir a inviolabilidade da pessoa humana.
Antigamente o útero materno era o lugar mais seguro para o desenvolvimento da vida humana incipiente, ao abrigo das intempéries, assim como o lar constitui o melhor ambiente para a salvaguarda da infância. Com o decorrer dos tempos, porém, o útero materno tornou-se o ambiente mais vulnerável. Entram em jogo muitos interesses, que vão desde as ideologias até a economia. Quer-se, a todo custo, permissão para eliminar a vida ainda não nascida.
Para sufragar esta pretensão alega-se que a mulher tem direito a seu corpo. Podemos alargar este direito a casa. Também ela é inviolável. Defendemos a privacidade do lar, sem contudo compactuar com os abusos desumanos que ali acontecem. Ninguém tem o direito de invadir o lar alheio. Na verdade o ser humano não é indivíduo mais família. A individualidade é uma abstração, o que equivale a um isolamento do contexto da vida real. O ser humano se determina por suas circunstâncias.
Quando reconhecemos, com critérios científicos, que a vida humana se inicia na sua concepção, sentimo-nos compromissados com ela a partir daquele momento. Concedendo que a mulher, como todo homem, tem direito sobre seu corpo, colocamos a cláusula prévia: ao acolher uma vida humana no seu seio, seu dever é cuidar dela, não menos que uma família que acolhe uma criança em seu lar. Matar uma vida humana no útero materno é agredir a humanidade inteira. Ninguém é obrigado a acolher alguém em sua casa nem no útero, mas uma vez ali estando, cabe o cuidado e o carinho que a vida humana merece.
A tentação do aborto retrata uma luta entre a mulher e a mãe. Obviamente estamos do lado da mãe. Quando a mulher destrói o feto, por qualquer razão que possa alegar, ela está matando também a mãe. Quando, em vez disso, uma mãe decide acolher a criança que concebeu, não só não mata a mulher mas a eleva ao ponto mais alto de sua dignidade.
Lorraine Murray, quando feminista, professava o amor livre, posicionava-se a favor do amor casual contra o matrimônio e consequentemente a favor do aborto. Reconhece que o amor livre inevitavelmente leva ao aborto. Acreditava que o aborto não teria nenhuma consequência para a mulher. O direito de liberdade da mãe sobrepujaria o direito de um bebê à vida. Após ela mesma provocar o aborto, inicialmente julgou ter ficado apenas livre da gravidez indesejada. Mas logo se deu conta da ilusão. Seu instinto maternal e suas emoções femininas reagiram com veemência. Confessa que, só após seu regresso à prática da Igreja, percebeu o equívoco. Deu-se conta de que não poderia ser simultaneamente “pró-mulher” e “antibebê”. Descobriu então “ser a favor dos direitos da mulher de uma maneira sadia e bela”.
No simpósio sobre bioética realizado no XVI Congresso Eucarístico Nacional de Brasília, uma doutora defendeu a tese de que o aborto é questão de saúde pública. De fato, envolve sempre a morte de uma vida humana, no caso o feto, e uma grave agressão à saúde da mulher que jamais conseguirá superar plenamente seu impacto. Saúde é, pois, evitar este desastre.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Novas normas contra delitos graves, resposta eficaz da Igreja

Análise do porta-voz vaticano

CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 19 de julho de 2010  – As novas Normae de gravioribus delictis aprovadas pela Santa Sé representam uma resposta eficaz e duradoura da Igreja aos delitos contra a fé, observa o porta-voz vaticano Pe. Federico Lombardi SJ.
O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé analisou os avanços alcançados com o novo documento pelo qual a Igreja responde aos desvios e delitos praticados contra os sacramentos da Eucaristia, da Penitência a da Ordem sacerdotal, incluindo os crimes de abuso e maus tratos contra menores por membros do clero.
“Com a publicação das novas normas para tratar e punir os crimes de abuso contra menores por membros do clero, a Igreja deu um passo significativo em relação à questão, com respostas duradouras e de impacto profundo”, explica Pe. Lombardi no último editorial do “Octava Dies”, publicação semanal do Centro Televisivo Vaticano.
“As leis, claras e bem divulgadas, constituem de fato uma orientação indispenável para qualquer grande comunidade, como é a Igreja católica, que deve observar, além das normas comuns autônomas, também aquelas dos muitos países onde vive”.
“Países nos quais, obviamente, as justas leis são respeitadas e postas em prática pelos homens da Igreja, como por quaisquer cidadãos, também no que se refere aos crimes de abuso”.
“Com as novas normas canônicas os procedimentos podem ser mais rápidos e eficazes, os tribunais eclesiásticos podem agora ser compostos por pessoal leigo competente com maior facilidade, o tempo para prescrição foi dobrado, e permanecem sempre possíveis exceções em casos de especial gravidade”, observa.
“Naturalmente, a lei é necessária, mas não é tudo. É necessário também empenho no âmbito educativo, de formação do clero e do pessoal que atua nas instituições ligadas à Igreja, ações preventivas e informativas, além do diálogo e acompanhamento pessoal das vítimas”.
“Da sua parte, a Congregação para a Doutrina da Fé continua a trabalhar para dar apoio aos episcopados ao formularem diretrizes locais coerentes e eficazes”, destaca.
“A nova lei é importantíssima, mas sabemos que nosso compromisso com um testemunho mais evangélico e puro deve ser de longo prazo”, conclui Pe. Lombardi.

terça-feira, 29 de junho de 2010

IGREJA CATÓLICA - CONCÍLIOS E SINÔDOS

A partir da segunda metade do século II os bispos adotaram o costume de reunir-se para deliberar em conjunto e tomar decisões em questões doutrinárias e da disciplina da Igreja. No século III esse costume generalizou-se em Capadócia, na África. No entanto, tratava-se de reuniões locais, que hoje chamaríamos antes de sínodos. A primeira reunião ecumênica ou universal, cumprindo melhor as condições de um concílio no sentido de hoje, foi somente o concílio de Nicéia (325).

Os primeiros concílios ecumênicos não devem ser imaginados como o grande Concílio de Trento ou o Vaticano II. Naquele tempo era outro o procedimento de convocação dos sínodos (que eram convocados pelo imperador), outra era a composição pessoal, outra a representatividade das províncias eclesiásticas (o Ocidente era representado apenas por alguns delegados), outra a autoridade (não havia grande preocupação com a aprovação do papa).

A partir de R. Belarmino (+1621) - a Igreja católica romana reconhece 21 concílios universais:

1) Concílio de Nicéia (325), convocado pelo imperador Constantino com o objetivo de condenar Ário. Proclamou que o Verbo é co-essencial ao Pai. Formulou a profissão de fé conhecida por Símbolo de Nicéia.

2) Concílio de Constantinopla (381), convocado pelo imperador Teodósio I, condenou o macedonismo, que negava a divindade do Espírito Santo. O papa Dâmaso nem foi convidado.

3) Concílio de Éfeso (431), convocado por Teodósio II, dirigido por S. Cirilo de Alexandria por autorização do papa Celestino I, condenou a Nestório, que questionava a correção teológica do título Theotokos, confirmou a doutrina da união hipostática.

4) Concílio de Calcedônia (451), convocado pelo imperador Marciano e confirmado pelo papa Leão I Magno, condenou o monofisismo (Eutiques).

5) Concílio de Constantinopla II (553), convocado pelo imperador Justiniano. Contrariando a opinião do papa Vigílio, condenou os chamados três capítulos, ou seja, os escritos de Teodoro de Mopsvesta, Teodoreto e Íbaso, suspeitos de nestorianismo.

6) Concílio de Constantinopla III (680), condenou o monotelismo e formulou a doutrina das duas vontades em Cristo; confirmado pelo papa Agato e Leão II.

7) Concílio de Nicéia II (786), contra os iconoclastas, confirmou a ortodoxia teológica do culto das imagens.

8) Concílio de Constantinopla IV (869-870), discutiu a questão do governo da sé patriarcal de Constantinopla, depôs a Fócio e condenou-o. Participaram do concílio apenas 103 bispos; a maioria permaneceu fiel a Fócio. A grande maioria do clero bizantino nunca reconheceu essa reunião como um concílio universal, mas apenas como uma humilhação da Igreja bizantina. Apesar de as decisões do concílio terem sido assinadas pelos delegados do papa (foi presidido pelo representante do imperador, não pelos legados), nem no Ocidente essa reunião era considerada como um concílio universal. Apareceu na lista dos concílios universais pela primeira vez apenas no século XI (período da reação ao cisma de Cerulário).

9) Concílio de Latrão I (1123), primeiro concílio ecumênico do Ocidente, com uma representação muito fraca do Oriente. Questão das investiduras.

10) Concílio de Latrão II (1139); questão dos símbolos, da usura e do celibato.

11) Concílio de Latrão III (1179) condenou os cátaros.

12) Concílio de Latrão IV (1215), o maior concílio da Idade Média, condenou os albigenses e regulamentou as questões da disciplina eclesiástica: dos sacramentos, do matrimônio, da anunciação do Evangelho

13) Concílio de Lyon I (1245), contra Frederico II; questões do poder temporal dos papas.

14) Concílio de Lyon II (1274), convocado pelo papa Gregório X, por iniciativa do imperador Miguel Paleólogo, empreeendeu uma tentativa de união da Igreja Ocidental com a Oriental, por motivos em boa parte políticos.

15) Concílio de Vienne (1311-1312), convocado pelo papa Clemente V, sob pressão de Filipe o Belo, para cassar a Ordem dos Templários.

16) Concílio de Constância (1414-1418), ocupou-se da questão da unificação do cristianismo, da reforma da Igreja, de Witklif, de Huss e do conflito entre os cavaleiros teutônicos e a Polônia.

17) Concílio de Florença (1439-1445), iniciou-se em Ferrara e terminou em Roma; abordou novamente a questão da união das Igrejas, publicou alguns documentos teológicos (Decreto aos Ormienses, Decreto aos Jacobitas). Com o Concílio de Florença esteve relacionada a União de Brest (1596).

18) Concílio de Latrão V (1512-1517), no tempo de Júlio II e Leão X, tinha por objetivo realizar uma reforma na Igreja. Não cumpriu a sua missão, o que demonstrou ser trágico alguns anos depois (pronunciamento de Lutero e divisão da Igreja Ocidental).

19) Concílio de Trento (1545-1563 - com interrupções), convocado por Paulo III, realizou a reforma da Igreja; proclamou uma série de decretos dogmáticos de grande significado eclesiástico (sobre a justificação, sobre os sacramentos). Desempenhou papel importante no concílio o cardeal polonês Estanislau Hozjusz.

20) Concílio Vaticano I (1869-1870), convocado por Pio IX, proclamou dois documentos dogmáticos: sobre a fé e o racionalismo e sobre a infalibilidade do papa.

21) Concílio Vaticano II (1962-1965), convocado por João XXIII, encerrado por Paulo VI, abordou a questão da reforma interna da Igreja e da adaptação das suas atividades às necesidades atuais (aggiornamento).

A valorização conferida pelo Concílio Vaticano II às Igrejas locais, ou dioceses, estimulou os bispos ordinários a realizar sínodos diocesanos, cuja graduação cresce proporcionamente ao aumento do significado das Igrejas locais. O teólogo terá que dar maior atenção aos documentos sinodais, principalmente porque eles encerram um rico material teológico. Preparados não apenas pelos mais próximos colaboradores do bispo, mas igualmente por um círculo mais amplo do clero inferior, juntamente com os religiosos e as religiosas, bem como com a significativa participação do laicato, tornam-se um reflexo interessante da consciência da fé e da sensibilidade moral da Igreja local, que é autêntica Igreja, e não apenas uma parcela sua. Por isso incluiremos os textos elaborados e aceitos pelos sínodos entre os loci theologici de peso.

À pergunta sobre a graduação tológica das decisões dos concílios universais deve-se responder que as verdades do âmbito da fé e dos costumes, apresentadas pelo concílios universais de forma direta e explícita como verdades reveladas por Deus e que devem ser aceitas como tais se quisermos permanecer na comunidade da Igreja, possuem o caráter de dogmas da fé.

Naturalmente nem todos os textos conciliares possuem o caráter de dogmas. Pode ser reconhecido como dogmatizante apenas aquilo que o próprio concílio quis que fosse dogmatizante. Em princípio isso ocorre em relação aos temas teológicos para os quais o concílio se reuniu, que distingue a fórmula dogmática dessa maneira, a fim de excluir dúvidas quanto a isso.

Nos documentos conciliares, a par da exposição básica da fé e da moral (na medida em que ela de fato ocorra durante os debates), são abordadas muitas vezes questões acessórias, relacionadas mais de longe com a fé e a moral, por exemplo problemas políticos, organizacionais, disciplinares, etc. Em questões desse tipo as decisões conciliares não devem ser consideradas como dogmáticas.

Nos documentos conciliares do tipo estritamente teológico, isto é, que estabelecem a posição da Igreja em questões de fé e de costumes, não possuem caráter de dogma todos os tipos de introdução, conclusão, argumentação, maneiras de aplicar os textos bíblicos nessa argumentação, alusões históricas, etc. O carisma da infalibilidade não se estende às partes e trechos do texto conciliar. Devemos colocar a questão dessa forma cuidadosa se quisermos levar em conta seriamente as experiências da história.

A maioria dos concílios da Idade Média ocupava-se com questões práticas, como o combate à usura, a organização de cruzadas, a instituição do celibato do clero, e também a luta pelo poder... Por isso, em geral as decisões por eles deixadas não entram no âmbito do ensinamento maximamente autorizado e infalível, ainda que tenham abordado questões de certa forma relacionadas com os costumes.

Discute-se a graduação dos textos dos concílios da união: de Lyon II (1274) e de Ferrara-Florença-Roma, chamado sucintamente de Concílio de Florença (1439-1445). Ambos deixaram uma coleção relativamente rica de textos doutinários, nos quais definiram a sua posição em questões que distinguem a Igreja católica romana da orotodoxa, sobretudo as questões do purgatório, do Filioque, dos sacramentos e da primazia. Esses textos não devem ser considerados como dogmatizantes, visto que: 1) ambos os mencionados concílios não se reuniram para definir a doutrina da Igreja quanto a esse objeto, mas para realizar a união por importantes razões políticas; foi também com esse objetivo prático que formularam a doutrina; 2) alguns trechos desses textos repetem nitidamente as teses da teologia de então, que somente após o Concílio de Trento foram elevados à graduação de dogmas (algumas teses da sacramentologia).

Os documentos do Vaticanum II não devem ser considerados como dogmatizantes, visto que os padres do concílio fizeram a clara restrição de que não queriam proclamar novos dogmas. Diante disso não se deve argumentar: "através dos padres conciliares pronunciou-se a doutrina universal da Igreja, e por isso o que eles disseram deve ser aceito como dogma do ensinamento universal". Mesmo que de fato tenham constituído uma espécie de representação da consciência eclesiástica da fé, é preciso levar em conta sobretudo a vontade deles de não definir, e reconhecer isso como critério decisivo.

A história dos dogmas manda constatar que a graduação (significado, força obrigatória) de um documento conciliar é definida também pela sua aceitação na Igreja, chamada recepção. É preciso indagar se, e em que medida, um determinado documento foi praticamente aceito na Igreja como expressão de ensinamento solene, ou apenas comum. A recepção da Igreja insere no sistema circulatório da Igreja, e a sua falta elimina algumas doutrinas do ritmo da sua vida; Além disso, até as grandes reuniões dos bispos são nobilitadas à graduação de concílios; por exemplo o sínodo de Constantinopla (869-870) foi incluído no catálogo dos concílios universais apenas dois séculos mais tarde, e a doutrina do sínodo de Orange (529) sobre a graça é avaliada na Igreja como se fosse a doutrina de um concílio.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

SANTA SÉ - Cardeal Herranz: sentença contra Crucifixo é expressão de “fundamentalismo laicista”

Purpurado pede respeito à Declaração Universal dos Direitos Humanos

CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 24 de junho de 2010 (ZENIT.org) – A sentença do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) que proíbe a exposição do crucifixo nas salas de aula italianas é expressão de um “fundamentalismo laicista”, segundo as palavras do cardeal Julián Herranz Casado, presidente emérito do Conselho Pontifício para os Textos Legislativos.

O purpurado interveio na última terça-feira na mesa-redonda realizada em Roma por iniciativa da presidência do Conselho de Ministros do Governo Italiano, responsável pelo recurso apresentado junto à Corte de Estrasburgo, que se pronunciará a respeito em 30 de junho próximo.

O “fundamentalismo laicista”, explicou o cardeal espanhol, “ao afastar-se da concepção correta de ‘laicidade’, pretende relegar a fé cristã e o fenômeno religioso em geral ao âmbito privado da consciência pessoal, excluindo qualquer símbolo religioso ou manifestação exterior de fé da esfera pública e das instituições civis”.

O purpurado analisou as motivações desta visão equivocada do princípio da laicidade que estariam por trás desta sentença, segundo a qual a exposição do crucifixo nas escolas constituiria uma pressão moral sobre os alunos em formação e uma agressão à sua liberdade de aderir ou não a uma religião qualquer.

Em primeiro lugar, explicou o cardeal Herranz Casado na reunião, “tal sentença não encontra fundamentação, uma vez que a simples exposição do crucifixo não pode ter caráter discriminatório nem ferir a liberdade religiosa de alunos não cristãos, e ainda desrespeita os direitos dos alunos cristãos das escolas italianas no que se refere ao artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos”.

“Esta, de fato, garante o direito à liberdade religiosa, a qual inclui a liberdade de manifestar, seja individualmente ou em grupo, seja publicamente ou em particular, a própria religião”, lembrou o cardeal.

Em segundo lugar, indicou que “a sentença não ponderou suficientemente que a ‘laicidade’ representa, em si, um princípio constitutivo dos Estados democráticos, mas são estes que determinam, nos casos particulares, suas formas concretas de atuação, à luz das circunstâncias e tradições locais”.

“Não se trata de um princípio ideológico a ser imposto à sociedade violentando as tradições, sentimentos e crenças religiosas de seus cidadãos”, assinalou.

Para o cardeal Herranz, “também o conceito de ‘neutralidade’ religiosa segundo a sentença da Corte de Estrasburgo é interpretado no sentido ideológico de um relativismo agnóstico (...). A neutralidade do Estado significa apenas que nenhuma religião terá caráter estatal, mas não que o Estado deva ser ‘anticonfessional’”.

“Tal postura de rejeição da religião faria do ateísmo uma espécie de ideologia ou religião oficial do Estado”, acrescentou.

O purpurado ressaltou que “a experiência já demonstrou” que proibições do gênero – como a aprovada na França em 2004, “não favorece a integração”, e citou um artigo publicado no Herald Tribune em 2008 segundo o qual, na França, um número crescente de famílias muçulmanas optava por matricular seus filhos em escolas católicas.

O cardeal concluiu pedindo às instituições da União Europeia que defendam estes direitos garantidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos.

domingo, 13 de junho de 2010

O LIVRO DA CAPA PRETA

A Sabedoria Divina está acima da Inteligência Humana!
Um senhor de 70 anos viajava de trem, tendo ao seu lado um jovem universitário, que lia o seu livro de ciências.
O senhor, por sua vez, lia um livro de capa preta. Foi quando o jovem percebeu que se tratava da Bíblia e estava aberta no livro de São Marcos.
Sem muita cerimônia o jovem interrompeu a leitura do velho e perguntou:
- O senhor ainda acredita neste livro cheio de fábulas e crendices?
- Sim, mas não é um livro de crendices.
- É a Palavra de Deus.
- Estou errado?
Respondeu o jovem:
-Mas é claro que está ! Creio que o senhor deveria estudar a Historia Universal.
-Veria que a Revolução Francesa, ocorrida há mais de 100 anos, mostrou a miopia da religião. Somente pessoas sem cultura ainda creem que Deus tenha criado o mundo em seis dias.
O senhor deveria conhecer um pouco mais sobre o que os nossos cientistas pensam e dizem sobre tudo isso.
-É mesmo?
-Disse o senhor. E o que pensam e dizem os nossos Cientistas sobre a Bíblia?
-Bem, respondeu o universitário, como vou descer na próxima estação, falta-me tempo agora, mas deixe o seu cartão que lhe enviarei o material pelo correio com a máxima urgência .
O velho então, cuidadosamente, abriu o bolso interno do paletó e deu o seu cartão ao universitário.
Quando o jovem leu o que estava escrito, saiu cabisbaixo sentindo-se pior que uma ameba.
No cartão estava escrito:
Professor Doutor: Louis Pasteur
Diretor Geral do Instituto De Pesquisas Cientificas da Universidade Nacional da França
“Um pouco de ciências nos afasta de Deus.Muito…, nos aproxima !
Fato verdadeiro, integrante da biografia ocorrido em 1892.
A questão de fé e ciência:
“Quaisquer que sejam as descobertas das ciências naturais, elas nunca contradirão a fé, já que no final das contas a verdade é uma só”.
Com esse conceito, o Papa Bento XVI reafirma o princípio já enunciado pelo Concílio Vaticano I (1869-1870):
“As verdades da fé e as verdades da ciência não podem nunca se contradizer ”
Ou, explicitando melhor, podemos dizer:
“As verdades verdadeiras da fé e as verdades verdadeiras da ciência nunca se contradizem”.
(Autor desconhecido)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Cuidado! Com os excessos nas novenas, rosários e cultos

Texto de Pe. Zezinho, scj

Números podem ajudar e podem nos desviar da fé. Praticar sete, treze, nove ou três são práticas pedagógicas, mas não podem ser vistas de maneira cabal e absoluta. Seria triste um católico ensinar que se alguém não orar exatamente 50 vezes as Ave Marias de uma parte do rosário não receberá a graça que pede. Seria trágico ensinar que a cada sete velas virtuais que um católico apaga na internet, ele se livra de sete maldições. Isso é superstição. Não tem nada a ver com cristianismo. Entrou como impureza e ganga bruta no meio do ouro da catequese! Se o padre ensina isso, seja corrigido por algum colega que estudou mais do que ele!

No passado remoto atribuía-se excessiva importância números. Ainda hoje algumas correntes de fé fazem uso do número na prática da fé. Cinco Pai Nossos, 50 Ave Marias, 5 Glória ao Pai ; 7 dias de jejum libertador, 3 dias ,7 dias , 9 dias , 13 dias , 40 dias passam a ter significados excessivamente vinculantes. Acabam escravizando. Seria como dizer que um livro não ensina porque o aluno não leu cinco das suas páginas...Ele pode ter perdido aqueles ensinamentos, mas aprendeu!

Correntes, novenas, tríduos, são propostas pedagógicas que se baseiam

na repetição. Condenar pura e simplesmente essa prática é ignorar o quanto para o povo a repetição faz sentido. Mas repetir sem catequese é charlatanismo. Passa a impressão de que Deus ouve pelo muito falar ou pelo muito repetir, pratica doutrina coisa que Jesus já condenou. Jesus deixa claro que não é por aí que se chega ao Pai

E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos. (Mt 6: 7)

Ele prefere coisas mais objetivas e menos sensacionais.

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas. (Mt 23, 23)

E, quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. (Mateus 6, 5)

Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente. (Mateus 6, 6)

Alguns pregadores esqueceram esta essencialidade da fé e partiram para a exigência dos números que escravizam. O povo tem necessidade de orar junto e as igrejas dependem de cultos. Uma igreja sem culto morreria em poucos meses. Mas o que caracteriza uma igreja é sua doutrina e seu jeito de adorar a Deus. O culto oficial é, portanto algo fundamental numa igreja.

Além do culto oficial há as devoções que não são obrigatórias, mas que ajudam os fiéis. Ninguém é obrigado a rezar nem as 200 Ave Marias que formam o terço do rosário de preces que um piedoso pregador difundiu homenageando a participação de Maria no seu papel de primeira cristã e seguidora de Jesus. O fiel medita com Maria. Mas é apenas devoção particular ou de algum grupo. A Igreja a recomenda, mas não a exige. Também não é permitido exagerar as virtudes do rosário, como alguns católicos fazem. Maravilhoso é uma coisa; milagroso é outra.

Alguns irmãos na televisão assam a impressão de que tais preces são instrumentos infalíveis. Rezou daquele jeito, conseguiu! A doutrina católica não autoriza isso. Por mais que alguém goste do rosário, há formas de oração mais importantes para a Igreja. E quem se magoa com essa afirmação mostra o quanto esta precisando ler melhor a sua Bíblia e o Catecismo Católico.

www.padrezezinhoscj.com

quarta-feira, 12 de maio de 2010

NÃO A LIBERALIZAÇÃO DA MACONHA...

NÃO A LIBERALIZAÇÃO DA MACONHA...
Informo que durante o I Simpósio Sul-Americano de Políticas Sobre Drogas: "Crack e Cenários Urbanos", realizado de 06 a 08 mai 2010, em Belo Horizonte, MG, reuniu-se extraordinariamente 15 (quinze) dos 23 Conselhos Estaduais de Políticas Sobre Drogas, no Forum Nacional de Conselhos Estaduais de Políticas Sobre Drogas do Brasil, havendo a manifestação daquele colegiado, com as seguintes considerações:

1. A lei 11.343/2006, já contempla o uso terapêutico de substâncias psicoativas lícitas, sob prescrição médica;

2. O vegetal "cannabis sativa", tema do debate, dignificado por aquele certame, apresentou no passado aplicabilidade médica, já desprezada, em virtude de já haver produção sintetizada de seu princípio ativo, mais eficaz e com menor efeito colateral, que possa conduzir a uso indevido, logo desnecessária sua aplicabilidade médica às necessidades humanas;

3. No cenário Sul-americano, tal vegetal é objeto causador de desarmonia social, através dos crimes conexos a sua produção e comércio, fomentador do aumento de violência e criminalidade, bem como ao dano intangível à saúde pública;

4. O evento apresenta de forma "criativa" um interesse de mercado, se legalizada, atendendo a "demanda reprimida por ser ilícita". Logo a quem interessa tal mercado?:

*Grandes Empresas (Vetoras de risco à saúde), e

*de outra banda os investidores "Narcotraficantes";

5. Tal substância, se legalizada, se constituirá em fator de risco ainda maior à saúde humana, pois segundo dados científicos, apresentados pelo Médico Doutor, José Manoel Bertolote, durante o I Simpósio Sul-Americano de Políticas Sobre Drogas: "Crack e Cenários Urbanos", realizado de 06 a 08 mai 2010, em Belo Horizonte, MG, a acessibilidade das drogas lícitas às tornam prevalentes ao uso e abuso de qualquer outra droga, logo sustenta, haveria o aumento de consumo legal do vegetal pretendido.

6. Diante deste cenário me dirijo a vossa Instituição, informando que o Forum Nacional de Conselhos Estaduais de Políticas Públicas Sobre Drogas, defende de forma cabal a proibição da produção e comércio da cannabis sativa, por causar dano social intangível, já haver produto sintético similar mais eficaz, aplicado ao uso medicinal, havendo sublinarmente a intenção de legalização, fomentadora do desvio de uso.

7. Logo solicitamos a divulgação a suas redes de relacionamento e mobilização, com o objetivo de defesa aos interesses pela preservação da vida de nossa e futuras gerações.

8. Neste momento eleitoral e de copa mundial de futebol, não nos entorpeçamos, necessitamos de atitudes sóbrias, que defendam os interesses do coletivo maior. Os usuários e dependentes de drogas necessitam de maior atenção, mas não conivência ao ilícito.

Att, Maj QOEM Edison Tabajara Rangel Cardoso - Presidente do Conselho Estadual de Entorpecentes do RS - conen@saude.rs.gov.br
******************************************************************************
Encaminho a V.Sª, os sitios com endereços relacionados ao Simpósio Internacional: "Por Uma Agência Brasileira cannabis Medicinal", a ser realizado nos dias 17 e 18 de maio de 2010 em São Paulo, com apoio de diversas Instituições de Ensino e pesquisa, com a participação da SENAD:


1. www.cebrid.epm.br;
2. www.cannabismedicinal.org.br;
3. www.revistavigor.com.br/2010/05/06/cannabis-medicinal-simposio-na-unifesp;
4. www.growroom.net/board/index.php?showtopic=33790;
5. http://stickers.growroom.net

sexta-feira, 23 de abril de 2010

MUITO MAIS QUE PEDOFILIA

POR CARDEAL ODILO PEDRO SCHERER

As notícias sobre pedofilia, envolvendo membros do clero, difundiram-se de modo insistente. Tristes fatos, infelizmente, existiram no passado e existem no presente; não preciso discorrer sobre as cenas escabrosas de Arapiraca… A Igreja vive dias difíceis, em que aparece exposto o seu lado humano mais frágil e necessitado de conversão. De Jesus aprendemos: “Ai daqueles que escandalizam um desses pequeninos!” E de São Paulo ouvimos: “Não foi isso que aprendestes de Cristo”.

As palavras dirigidas pelo papa Bento XVI aos católicos da Irlanda servem também para os católicos do Brasil e de qualquer outro país, especialmente aquelas dirigidas às vítimas de abusos e aos seus abusadores. Dizer que é lamentável, deplorável, vergonhoso, é pouco! Em nenhum catecismo, livro de orientação religiosa, moral ou comportamental da Igreja isso jamais foi aprovado ou ensinado! Além do dano causado às vítimas, é imenso o dano à própria Igreja.

O mundo tem razão de esperar da Igreja notícias melhores: Dos padres, religiosos e de todos os cristãos, conforme a recomendação de Jesus a seus discípulos: “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que eles, vendo vossas boas obras, glorifiquem o Pai que está nos céus!” Inútil, divagar com teorias doutas sobre as influências da mentalidade moral permissiva sobre os comportamentos individuais, até em ambientes eclesiásticos; talvez conseguiríamos compreender melhor por que as coisas acontecem, mas ainda nada teríamos mudado.

Há quem logo tem a solução, sempre pronta à espera de aplicação: É só acabar com o celibato dos padres, que tudo se resolve! Ora, será que o problema tem a ver somente com celibatários? E ficaria bem jogar nos braços da mulher um homem com taras desenfreadas, que também para os casados fazem desonra? Mulher nenhuma merece isso! E ninguém creia que esse seja um problema somente de padres: A maioria absoluta dos abusos sexuais de crianças acontece debaixo do teto familiar e no círculo do parentesco. O problema é bem mais amplo!

Ouso recordar algo que pode escandalizar a alguns até mais que a própria pedofilia: É preciso valorizar novamente os mandamentos da Lei de Deus, que recomendam atitudes e comportamentos castos, de acordo com o próprio estado de vida. Não me refiro a tabus ou repressões “castradoras”, mas apenas a comportamentos dignos e respeitosos em relação à sexualidade. Tanto em relação aos outros, como a si próprio. Que outra solução teríamos? Talvez o vale tudo e o “libera geral”, aceitando e até recomendando como “normais” comportamentos aberrantes e inomináveis, como esses que agora se condenam?

As notícias tristes desses dias ajudarão a Igreja a se purificar e a ficar muito mais atenta à formação do seu clero. Esta orientação foi dada há mais tempo pelo papa Bento XVI, quando ainda era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Por isso mesmo, considero inaceitável e injusto que se pretenda agora responsabilizar pessoalmente o papa pelo que acontece. Além de ser ridículo e fora da realidade, é uma forma oportunista de jogar no descrédito toda a Igreja católica. Deve responder pelos seus atos perante Deus e a sociedade quem os praticou. Como disse São Paulo: Examine-se cada um a si mesmo. E quem estiver de pé, cuide para não cair!

A Igreja é como um grande corpo; quando um membro está doente, todo o corpo sofre. O bom é que os membros sadios, graças a Deus, são a imensa maioria! Também do clero! Por isso, ela será capaz de se refazer dos seus males, para dedicar o melhor de suas energias à Boa Notícia: para confortar os doentes, visitar os presos nas cadeias, dar atenção aos abandonados nas ruas e debaixo dos viadutos; para ser solidária com os pobres das periferias urbanas, das favelas e cortiços; ela continuará ao lado dos drogados e das vítimas do comércio de morte, dos aidéticos e de todo tipo de chagados; e continuará a acolher nos Cotolengos criaturas rejeitadas pelos “controles de qualidade” estéticos aplicados ao ser humano; a suscitar pessoas, como Dom Luciano e Dra. Zilda Arns, para dedicarem a vida ao cuidado de crianças e adolescentes em situação de risco; e, a exemplo de Madre Teresa de Calcutá, ainda irá recolher nos lixões pessoas caídas e rejeitadas, para lavar suas feridas e permitir-lhes morrer com dignidade, sobre um lençol limpo, cercadas de carinho. Continuará a mover milhares de iniciativas de solidariedade em momentos de catástrofes, como no Haiti; a estar com os índios e camponeses desprotegidos, mesmo quando também seus padres e freiras acabam assassinados.

E continuará a clamar por justiça social, a denunciar o egoísmo que se fecha às necessidades do próximo; ainda defenderá a dignidade do ser humano contra toda forma de desrespeito e agressão; e não deixará de afirmar que o aborto intencional é um ato imoral, como o assassinato, a matança nas guerras, os atentados e genocídios. E sempre anunciará que a dignidade humana também requer comportamentos dignos e conformes à natureza, também na esfera sexual; e que a Lei de Deus não foi abolida, pois está gravada de maneira indelével na coração e na consciência de cada um.

Mas ela o fará com toda humildade, falando em primeiro lugar para si mesma, bem sabendo que é santa pelo Santo que a habita, e pecadora em cada um de seus membros; todos são chamados à conversão constante e à santidade de vida. Não falará a partir de seus próprios méritos, consciente de trazer um tesouro em vasos de barro; mas, consciente também de que, apesar do barro, o tesouro é precioso; e quer compartilhá-lo com toda a humanidade. Esta é sua fraqueza e sua grandeza!

Cardeal Odilo Pedro Scherer é Arcebispo da Arquidiocese de São Paulo/SP.

Fonte: Artigo publicado em O ESTADO DE SÃO PAULO, ed. 11. 04.2010.
Do site: http://www.revistaparoquias.com.br/index.php/2010/04/palavra-do-pastor/

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

DIACONATO PERMENENTE

Por Dom Orani João Tempesta, O. Cist.

Nos últimos anos temos visto na Igreja o incremento do ministério do Diácono Permanente. Não resta dúvida de que os padres conciliares foram inspirados para esta restauração. A retomada desse ministério, como uma vocação própria, é uma grande riqueza para nós.

Tive a oportunidade de poder vivenciar várias experiências ligadas ao diaconato permanente, seja em minha paróquia, seja iniciando a escola diaconal em minha primeira diocese ou então continuando uma caminhada das mais antigas do Brasil, na arquidiocese anterior a que servi. Percebi a importância e o valor do diaconato permanente, tanto no campo social como na presença evangelizadora da Igreja nos diversos âmbitos e também nas comunidades. Posso testemunhar por minhas experiências a riqueza da vida, da missão e trabalho diaconal o bem que se faz à Igreja.

Nem sempre as pessoas compreendem como esse passo que o Concílio Vaticano II nos deu foi profético. Muitos selecionam do Concílio apenas aquilo que querem e não acolhem esse grande dom que nos foi dado. Muitas comunidades no Brasil e no exterior já deram grandes passos nessa direção, enriquecendo a Igreja local com os diversos carismas e dons.

Se nos atualizamos com alguns números do Anuário Pontifício, ficamos impressionados com a vida diaconal em algumas dioceses nos Estados Unidos: Nova York conta com 377 diáconos, Los Angeles possui 261, e Boston com 257. Os pastores dessas megalópoles, com todos os seus desafios pastorais e sociais tão grandiosos quanto os nossos, souberam acolher a proposta conciliar e deram passos que hoje marcam o trabalho dessas Igrejas.

O importante é que “é preciso superar uma inércia ministerial das Igrejas, acostumadas a ver só um tipo de ministério ordenado na comunidade” (doc. 57 - pg. 22 – Estudos da CNBB - 1988). A ação do Espírito Santo se adiantou às nossas necessidades e missão.

Aqui na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro começou uma das primeiras iniciativas para a ordenação de diáconos permanentes ainda com o meu predecessor, Cardeal Dom Eugênio, sendo ele também um dos pioneiros na defesa desse ministério. Tive a graça de suceder em Belém e aqui no Rio de Janeiro a Arcebispos pioneiros que trilharam esse caminho, e foram fieis ao Concílio, com a organização desse ministério hierárquico. Acredito que seria muito importante uma história dessa vocação, seus inícios, passos e com mais dados e fatos em nossa Igreja do Rio de Janeiro.

A nossa Arquidiocese criou a sua Escola Diaconal, onde os candidatos passam quase 5 anos de intensa formação doutrinal, pastoral e sacramental, de acordo com as horas-aula que são exigidas segundo os documentos que organizam a formação diaconal.

Com toda esta história e com o trabalho sendo bem desenvolvido, peço a Deus que nos envie muitas vocações para que possamos incrementar ainda mais, com o diaconato permanente, a nossa missão evangelizadora e catequética nesta grande cidade. Tive a alegria de ordenar, no dia 28 de novembro passado, o mais novo grupo de diáconos permanentes, que vem somar forças com aqueles que já caminham e servem a esta Igreja com generosidade e alegria. Agora necessitamos de olhar adiante e para o futuro.

Confio principalmente aos párocos o discernimento vocacional para que, consultadas as comunidades e os conselhos paroquiais, indiquem candidatos para serem encaminhados nessa direção. Em uma cidade como a nossa não podemos nos acomodar e sim nos colocar à escuta do Senhor para que saibamos acolher os trabalhadores que Ele envia para a messe. Os párocos devem perceber em suas comunidades aqueles homens capazes de assumir essa caminhada vocacional, e também estar abertos para as vocações que lhe chegam espontaneamente ou indicadas por pessoas conhecidas que querem o bem da Igreja.

A própria comunidade paroquial é fonte de vocações desses homens que estão dispostos a uma doação mais radical e profunda pela causa do Evangelho. É um belo testemunho que temos ao nosso redor com tantas pessoas de diversas situações culturais e sociais se colocarem a serviço do povo de Deus com generosidade e alegria, autorizados pelas esposas e com a alegria dos filhos.

Somos chamados a dar testemunho e nos empenharmos numa lógica de comunhão ministerial, onde percebamos que a vida ministerial deve estar completa para que possa transparecer todo o múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, cabeça e fundamento de toda a vida vocacional na Igreja.

E que possamos, assim, perceber toda a riqueza de vocações e de serviços que existem no corpo da Igreja, onde todos estão a serviço de um único Senhor e de um único Evangelho. Todos, sendo diferentes na sua caminhada vocacional, e sendo diferentes no modo de vida na qual assumem os seus propósitos de bem servir à Igreja de Cristo, devem ter o firme propósito de completar em si mesmos o único ministério do Cristo, e do qual emanam todas as vocações.

Quero pedir, portanto, a todos os sacerdotes, e em especial aos párocos de nossa Arquidiocese, que, em comunhão com as diretrizes desta nossa Igreja particular do Rio de Janeiro, possam se empenhar para o frutuoso incremento das vocações diaconais. Quero reafirmar que estarei sempre empenhado, seguindo a linha de ação pastoral de meus predecessores, no desenvolvimento da vida diaconal em nossa Arquidiocese, com tanto vigor quanto tenho pelas vocações sacerdotais e religiosas.

Recordo que a seleção prévia dos candidatos nas paróquias já é um chamado, e se reveste de grande importância. A formação e o discernimento aperfeiçoarão esse chamado.

O caminho institucional é o que atualmente está em vigor: os nomes dos possíveis candidatos são enviados à Comissão Arquidiocesana dos Diáconos Permanentes (Cadiperj), e, uma vez aceitos, poderão ingressar no período do propedêutico, com duração de um ano, e ao seu término poderão ser inscritos na Escola Diaconal Santo Efrém.

Peço ao Senhor da Messe que nos envie boas e santas vocações diaconais para a nossa Igreja de São Sebastião do Rio de Janeiro. O cânon 385 nos recorda que: “O Bispo diocesano incentive ao máximo as vocações para os diversos ministérios”.

Assim respondo com alegria ao pedido que a Mãe Igreja me pede: promover as vocações em todos os seus ministérios, e, agora, aqui, especialmente, o ministério diaconal.
Site CNBB, em 22 Fev 10.

O DECRETO DA DISCÓRDIA (Direitos Humanos?)

Por D. Dadeus Grings, Arcebispo de Porto Alegre

O Decreto presidencial 7.037, do Programa Nacional de Direitos Humanos, suscitou muitas reações de todos os setores da sociedade, desde militares à Igreja, desde imprensa aos advogados... Que houve de errado? Alega-se, em defesa, que já sugiram duas edições anteriores de "Direitos Humanos", que não provocaram estranheza e que se consideram similares. Vem então a pergunta: se duas edições iguais não deram certo, porque reeditá-la numa terceira, fora de época?

Se o paradigma das duas primeiras ainda era a globalização, hoje o paradigma tende a proteger os valores particulares e as tradições próprias. Não é, pois, um contra-senso reeditar medidas fora de época, ainda mais numa perspectiva chavista, como se ouve aos quatro ventos? A falha está no próprio método.

Nossa República Federativa apresenta três instâncias, que a Constituição define como independentes e quer harmoniosas: Executivo, Legislativo e Judiciário. Infelizmente, chegamos a uma situação paradoxal em que o Executivo legisla por decretos e medidas provisórias; o Legislativo julga por CPIs; e o Judiciário governa com liminares. Consequentemente, o país fica em contínuo sobressalto, porque nenhum dos Três Poderes tem as devidas credenciais e os indispensáveis dispositivos para agir nestes campos que, constitucional e organicamente, pertencem a outro poder.

Por que editar decretos, com uma salada de leis indigestas, a serem acolhidas em bloco? Compete ao Legislativo legislar. Foi eleito e tem os devidos dispositivos para isso, sem provocar celeumas na sociedade, mesmo que não o faça sempre a contento... Além do mais, o Decreto 7.037 confunde Estado e sociedade. O Estado procura abafar a sociedade. A sociedade, ao contrário do Estado, é pluralista e tem cultura que conquistou ao longo de sua história. Não se pode impunemente abafar o que lhe pertence.

A Revolução Cultural Chinesa, por isso, se frustrou, além de causar muito sofrimento e muitos dissabores. Feriu profundamente a nação. O mesmo aconteceu com a Revolução Francesa, que tentou eliminar até o domingo e a semana, tão profundamente arraigados na sociedade ocidental. Nem falemos das tentativas semelhantes do nazismo e do marxismo, que não só teoricamente, por decreto, mas na prática, tentaram fazer tabula rasa do passado cultural. E para sintetizar tudo, lembremos a destruição de uma das maiores estátuas de Buda, esculpida em pedra, no século V. Pois, em 2001, iniciando o Novo Milênio, os "donos do poder" no Afeganistão julgaram não poder tolerar esta "idolatria" e decretaram que ela não fazia parte da cultura do momento. Hoje estes governantes são execrados.

Os novos governantes procuram reconstruir o que os outros malfadadamente destruíram. Não podemos impunemente despir o Brasil de seus valores religiosos e culturais, a título de equipará-lo aos países de outras tradições. Temos que lutar pelo que é nosso.

Se, em vez de legislar por decretos, o governo tivesse editado, dentro de sua competência, e executasse um pacote de medidas para conter a violência, enfrentar a difusão da droga e acabar com a corrupção, teria colhido uma aprovação praticamente unânime da sociedade. Se em vez do "Decreto da Discórdia", como se revelou o Programa Nacional dos Direitos Humanos, se tivesse empenhado pela reconciliação da sociedade brasileira, superando os conflitos e tensões em todos os campos, pela solidariedade e por uma moradia digna, em lugar das favelas, teria colhido maiores consensos da população brasileira.

Notícia da edição impressa do JC de 11/02/2010

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

APRESENTAÇÃO DO SENHOR NO TEMPLO - (Papa Bento XVI)

O mundo não se atrai tanto pelos mestres, mas pelas testemunhas. Uma das máximas mais importantes e conhecidas do magistério dos papas pode-se bem aplicar à vida dos religiosos, que se consagram a Deus num específico Instituto para servir à causa do Evangelho no mundo.
Essa convicção orientou nestes anos o pensamento de Bento XVI sobre a vida consagrada, em particular quando no dia 2 de fevereiro – festa da Apresentação do Senhor – o papa se dirige aos religiosos no dia que recorda e celebra a sua específica vocação.
Aproveitamos a festa da Apresentação do Senhor para repropor algumas passagens mais salientes do ensinamento de Bento XVI sobre a vida consagrada.

A cena do Evangelho de Lucas que mostra o ancião israelita Simeão ir ao encontro do pequeno Jesus apresentado no Templo por Maria e José, abraçá-lo e expressar toda a sua alegria a Deus por aquele encontro longamente esperado, é como uma "janela" através da qual o Antigo Testamento se "apresenta" no Novo.
Nos olhos do ancião Simeão refletem-se os olhos dos profetas que anunciaram o Messias sem vê-lo: no abraço do ancião ao recém-nascido reflete-se o tempo da primeira Aliança que toca fisicamente a Aliança da salvação. Bento XVI evidenciou a experiência de Simeão numa das homilias de 2 de fevereiro:

"Naquele Menino reconhece o Salvador, mas intui no Espírito Santo que gira em torno dele o destino da humanidade, e que deverá sofrer muito por parte daqueles que o rejeitarão; proclama a sua identidade e a missão de Messias com as palavras que formam um dos hinos da Igreja nascente (...) O entusiasmo é tão grande que viver e morrer são a mesma coisa, e a "luz" e a "glória" se tornam uma revelação universal." (2006)

"Os meus olhos viram a sua salvação", afirma com gratidão o ancião Simeão. Mas o desejo dessa revelação – explica ainda o pontífice – jamais se apagou. "Como os anciãos Simeão e Ana – ressalta – tinham o desejo de ver o Messias antes da sua morte" e falavam dele "aos que esperavam a redenção de Jerusalém":

"... assim também neste nosso tempo é difusa, sobretudo entre os jovens, a necessidade de encontrar Deus. Aqueles que são escolhidos por Deus para a vida consagrada fazem seu de modo definitivo esse anseio espiritual. Neles habita uma só expectativa: a espera do Reino de Deus; que Deus reine em nossas vontades, em nossos corações, no mundo. Neles se consume uma única sede de amor, que somente o Eterno pode apagar." (2007)

"Mais vezes também eu – afirmou Bento XVI no dia 18 de fevereiro de 2008, encontrando um grupo de representantes de Institutos religiosos e de sociedades de vida consagrada – quis reiterar que os homens de hoje sentem um forte chamado religioso e espiritual, mas se sentem prontos a escutar e seguir somente quem testemunha com coerência a sua adesão a Cristo." Em seguida, afirmou:

"A celebração de hoje é mais do que nunca oportuna para pedir juntos ao Senhor o dom de uma sempre mais consistente e incisiva presença dos religiosos, das religiosas e das pessoas consagradas na Igreja em caminho pelas estradas do mundo. Caros irmãos e irmãs, a festa que hoje celebramos nos recorda que o testemunho evangélico de vocês, para que seja verdadeiramente eficaz, deve nascer de uma resposta sem reservas à iniciativa de Deus que os consagrou a si com um especial ato de amor."

Fonte: Rádio Vaticano
Local:Cidade do Vaticano

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Evangelho do dia 17 de janeiro de 2010, João 2, 1-11

II DO TEMPO COMUM


(verde, glória, creio - II semana do saltério)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo João - 1Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galiléia, e achava-se ali a mãe de Jesus. 2Também foram convidados Jesus e os seus discípulos. 3Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: Eles já não têm vinho. 4Respondeu-lhe Jesus: Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou. 5Disse, então, sua mãe aos serventes: Fazei o que ele vos disser. 6Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações dos judeus, que continham cada qual duas ou três medidas. 7Jesus ordena-lhes: Enchei as talhas de água. Eles encheram-nas até em cima. 8Tirai agora , disse-lhes Jesus, e levai ao chefe dos serventes. E levaram. 9Logo que o chefe dos serventes provou da água tornada vinho, não sabendo de onde era (se bem que o soubessem os serventes, pois tinham tirado a água), chamou o noivo 10e disse-lhe: É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora. 11Este foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galiléia. Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele. - Palavra da salvação.



Comentário ao Evangelho do dia feito por São Romano, o Melodista (? - c. 560), compositor de hinos Hino n°18, As Bodas de Caná (a partir da trad. de SC 110, pp. 307ss. rev.)

«Tu, porém, guardaste o melhor vinho até agora!»

Enquanto Cristo participava na boda e a multidão dos convivas festejava, faltou-lhes o vinho e a alegria transformou-se em decepção. [...] Vendo isso, a puríssima Maria vem imediatamente dizer ao Filho: «Já não têm mais vinho. Por isso, peço-Te, Meu Filho, mostra que podes tudo, Tu que tudo criaste com sabedoria».

Por favor, Virgem venerável, na sequência de que milagres soubeste Tu que o Teu Filho, sem ter vindimado a uva, podia conceder o vinho, se Ele não tinha anteriormente feito milagres? Ensina-nos [...] como disseste a Teu Filho: «Dá-lhes vinho, Tu que tudo criaste com sabedoria».

«Eu mesma vi Isabel chamar-me Mãe de Deus antes do parto: depois do parto, Simeão cantou-me e Ana celebrou-me; os magos acorreram ao presépio vindos da Pérsia porque uma estrela anunciava antecipadamente o nascimento; os pastores, com os anjos, faziam-se arautos da alegria e a criação rejubilava com eles. Poderia eu ir procurar maiores milagres do que estes para crer, com base na fé deles, que o meu Filho é Aquele que tudo criou com sabedoria?» [...]

Quando Cristo, pelo Seu poder, mudou manifestamente a água em vinho, toda a multidão rejubilou, achando admirável o seu sabor. Hoje, é no banquete da Igreja que todos nós tomamos lugar, porque o vinho é transformado em sangue de Cristo e nós bebemo-lo todos com uma alegria santa, glorificando o grande Esposo. Porque o Esposo verdadeiro e filho de Maria, o Verbo que é deste toda a eternidade, tomou a forma dum escravo e tudo criou com sabedoria.

Altíssimo, Santo, Salvador de todos, visto que a tudo presides, guarda sem alteração o vinho que está em nós. Expulsa de nós toda a perversidade, todos os maus pensamentos que tornam aguado o Teu vinho santíssimo. [...] Pelas orações da Santa Virgem Mãe de Deus, liberta-nos da angústia dos pecados que nos oprimem, Deus misericordioso, Tu que tudo criaste com sabedoria.
Evangelizo.org



Antes e depois de Maria

Uma nova era na espiritualidade do gênero humano se inicia publicamente com o milagre das Bodas de Caná. Além de conferir ao casamento um altíssimo significado, Jesus inaugura a mais excelente via para se obter o perdão e a graça: confiar na mediação e na onipotência suplicante de Maria.

Autoria: Monsenhor João Clá Dias

Riqueza teológica do Evangelho de São João

“Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever” (Jo 21, 25).

Assim termina São João o 4º Evangelho, o de sua lavra. Quando o escreveu, por certo já conhecia — e de há muito — os três anteriores. Daí seu empenho em completá-los nos detalhes e aspectos mais necessários para os dias de sua divulgação. Na Ásia Menor, onde se espraiava a Igreja nascente, pululavam os erros de uma perigosa gnose ameaçadora da boa e sã doutrina deixada em herança por Jesus aos seus discípulos. Nessas circunstâncias, importava antes de tudo provar a divindade de Nosso Senhor, o Messias.

Que um homem possa ser inteligente tanto quanto um puro espírito, não é difícil excogitar. Mas admitir a união de duas naturezas — uma eterna e absoluta, outra cria¬ da e contingente — numa só Pessoa, e esta divina, seria totalmente inconcebível até pelos Anjos, em sua pura natureza, se não fosse o dom da Fé. Ora, foi bem esse o objetivo de São João em seu Evangelho, ou seja, expor os principais fatos e doutrinas de modo a servirem de base para a ação do Espírito Santo sobre as almas, ajudando-as a crerem em Jesus, Homem e Deus.

Na época, não havia computadores nem impressoras, os livros se reduziam aos rolos de pergaminho, a escrita era lenta e quase desenhada. Era, pois, indispensável a São João, em vez de fazer uma narração exaustiva, condensar em poucas palavras todo um universo de pensamento e considerações. Aqui está uma das razões pelas quais, na Escritura Sagrada, cada pa¬lavra é densa de significação.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

EVANGELHO DO DIA 10 DE JANEIRO DE 2010 (BATISMO DO SENHOR)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 3,15-16.21-22.
Estando o povo na expectativa e pensando intimamente se ele não seria o Messias, João disse a todos: «Eu batizo-vos em água, mas vai chegar alguém mais forte do que eu, a quem não sou digno de desatar a correia das sandálias. Ele há-de batizar-vos no Espírito Santo e no fogo.
Todo o povo tinha sido batizado; tendo Jesus sido batizado também, e estando em oração, o Céu rasgou-se
e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea, como uma pomba. E do Céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado; em ti pus todo o meu agrado.»

Comentário ao Evangelho do dia feito por São Gregório de Nazianzo (330-390), bispo e Doutor da Igreja - Homilia 39, para a festa das Luzes; PG 36, 349 (a partir da trad. bréviaire)

«Então o céu rasgou-se»

Cristo é iluminado pelo batismo, resplandeçamos com Ele; Ele é mergulhado na água, desçamos com Ele para emergir com Ele. [...] João está a batizar e Jesus aproxima-Se: talvez para santificar aquele que O vai batizar; certamente para sepultar o velho Adão no fundo da água. Mas, antes disso e com vista a isso, Ele santifica o Jordão. E, como Ele é espírito e carne, quer poder iniciar pela água e pelo Espírito. [...] Eis Jesus que emerge da água. Com efeito, Ele carrega o mundo; fá-lo subir conSigo. «Ele vê os céus rasgarem-se e abrirem-se» (Mc 1,10), ao passo que Adão os tinha fechado, para si e para a sua descendência, quando foi expulso do paraíso que a espada de fogo defendia.
Então o Espírito revela a Sua divindade, pois dirige-Se para Aquele que tem a mesma natureza. Uma voz desce do céu para dar testemunho Daquele que do céu vinha; e, sob a aparência de uma pomba, honra o corpo, pois Deus, ao mostrar-Se sob uma aparência corpórea, diviniza igualmente o corpo. Foi assim que, muitos séculos antes, uma pomba veio anunciar a boa nova do fim do Dilúvio (Gn 8,11). [...]
Quanto a nós, honremos hoje o batismo de Cristo e celebremos esta festa de um modo irrepreensível. [...] Sede inteiramente purificados e purificai-vos sempre. Pois nada dá tanta alegria a Deus como a recuperação e a salvação do homem: é para isso que tendem todas estas palavras e todo este mistério. Sede «como fontes de luz no mundo» (Fil 2,15), uma força vital para os outros homens. Como luzes perfeitas secundando a grande Luz, iniciai-vos na vida de luz que está no céu; sede iluminados com mais claridade e brilho pela Santíssima Trindade.
Fonte: http://www.evangelhoquotidiano.org/